Terminologia da Vida
Pensando em tudo, e no nada
Acordei eu hoje, pela alvorada
Ontem eu corria pela calçada
E hoje corro da vida, assustada
“Como vai a escola?”
Vai bem, obrigada!
“Aplica-te, não se ganha a vida a tocar
viola”
Há com cada um, até parece piada!
Olhem para mim…
Submersa em profunda incerteza
Mas o que posso eu fazer?
Sou inquieta, sou intensa
E eu… eu juro que tento
Manter o equilíbrio, também a calma
Mas lá se dissipa o meu alento
Perde-se num turbilhão a minha alma
A meninice já lá vai
E eu nem lhe disse adeus
Não a vi tampouco passar
Escapou-se entre os dedos meus
“Já estou farta de assim ser
Quero ser grande, quero crescer
Poder brincar até tarde no jardim…
Ver desenhos animados quando
quiser
Faltar às aulas chatas de latim…
Muitos doces, muitos jogos,
Fazer o que me apetece fazer!”
Oxalá, ter eu preocupações assim
Chorar solto, e sem motivo
Sem os fardos reais da vida
Cair, esfolar o joelho e por fim
A mamã colocar-me um penso
colorido na ferida
Toc, toc, toc
Alguém me tem batido à porta
Tenho evitado abri-la, não estava
pronta.
Mas abro-a hoje, como num passo de
fé
“Olá, bom dia, pode dizer-me quem
é?”
Oh, minha pequena eu…
Sou aquele a quem tu estranhas
Aquele que tu, ao não abrires a porta
esperas
Que ali se mantenha,
imutável e paciente, apenas
Mas o tempo não perdoa
Não é pessoa para que o faça
Ele passa, mesmo que doa
Mas aí está a graça
Não temas, não desesperes
Assim como o tempo se dá, a vida flui
Traça o teu rumo, faz os teus afazeres
Vive intensamente, não importa tudo o
que isso inclui.
De certo, que a vida não são flores
Mas se fosse, seria a rosa
Que entre espinhos e dissabores
É fugaz e majestosa
Mutável
Palavra que define a vida
Vida esta efémera
Vida de tamanha indefinição
mas que no meio de tudo isso
conquistou, por inteiro, o meu coração
Vida.
Esta é a minha terminologia.
Maria Passos
Vale a pena?

Vale a pena as pessoas enganar,
Mesmo quando nada vais ganhar?
Vale a pena o mundo estragar,
Quando nele tu vais estar?
Vale a pena ganhar dinheiro ,
À custa do outro primeiro?
Vale a pena o homem ter,
Quando a mulher fez para merecer?
Vale a pena, a mulher tocar
Mesmo quando ela está a negar?
Vale a pena, a homossexualidade esconder
E feliz não ser?
Vale a pena no trabalho afundar,
Mas a família não vai lá estar?
Vale a pena o “preto” morrer,
Enquanto o “branco” te faz sofrer?
Vale a pena o país corromper,
E nele depois vais querer viver?
Vale a pena a guerra começar
Só para ser um mau lembrar?
Vale a pena isto acabar,
Sim, pois nada vai mudar!
L.M.
Isto Acaba Aqui, Colleen Hoover
Colleen Hoover tem sido a autora sensação do BookTook e do Bookstagram e com todo o direito. Este foi o primeiro livro que li da autora e adorei imenso! Tornou-se um dos meus favoritos, sem dúvida!
- Título original: It Ends With Us
- Título em português: Isto Acaba Aqui
- Autora: Colleen Hoover
- Ano: 2016 (PT: 2017)
Podemos considerar que este é um livro leve que fala sobre temas pesados. Quem já teve contacto com a escrita da Colleen Hoover sabe que a autora tem esta capacidade.
Neste livro, a protagonista, Lily Bloom, é familiarizada com o conceito de violência doméstica desde pequena. O seu pai maltratava a sua mãe, muitas vezes à sua frente, e esse é um trauma que a acompanha durante toda a obra. Ainda assim, Lily cresce para se tornar uma mulher forte e cheia de garra que jura a si mesma que nunca irá ser vítima dos maus-tratos que viu a mãe sofrer. Mas o destino tem outros planos para ela. Quando tem 25 anos, no dia do funeral do seu pai, Lily conhece Ryle, um homem misterioso e encantador que a deixa arrebatada logo no primeiro encontro.
Mas Ryle tem um segredo, um passado que não conta a ninguém, nem mesmo a Lily. Existe dentro dele um turbilhão de problemas que faz Lily recordar-se do seu pai e das coisas que este fazia à sua mãe.
Resumindo, nesta obra é-nos relatada a relação de Lily e Ryle, como também os seus problemas e conflitos, enquanto descobrimos mais sobre o passado e o primeiro amor de Lily através dos seus diários.
«Quem me dera que quebrar os laços que mantenho com a pessoa que me magoou fosse tão fácil como eu costumava julgar que seria.»
– Colleen Hoover
Nesta frase podemos resumir o que o livro pretende transmitir. Provavelmente todos pensamos que, se a pessoa sofre de violência doméstica, porquê que a vítima não o largou? Mas isso nem sempre é fácil para quem está no papel da vítima.
A minha nota para este livro é, sem dúvida, 5/5 ⭐. Este livro tem o poder de abordar um assunto muito pesado, como a violência doméstica, de uma forma leve. Também gostei do facto de ser permitido saber os traumas que levam Ryle a ter as atitudes que tem, mas, mesmo assim, não ser motivo para as justificar e perdoá-lo.
Beatriz Gil

Ler é…
Para mim, ler é como um refúgio. Quando me sinto mais em baixo, ou simplesmente não tenho nada para fazer, é na leitura que encontro a minha fuga da realidade. Há livros que nos impactam pelas suas frases que nos fazem refletir, outros simplesmente fazem-nos apaixonar por personagens fictícios.
De todos os livros que já li até agora, houve três que se tronaram nos meus prediletos.
O livro Isto Acaba Aqui, de Colleen Hoover, aborda o tema da violência doméstica e faz-nos refletir sobre o facto de que nem sempre é fácil para a vítima sair da sua relação abusiva.
«Quem me dera que quebrar os laços que mantenho com a pessoa que me magoou fosse tão fácil como eu costumava julgar que seria.»
– Colleen Hoover
«No futuro… se por milagre te vires novamente na posição de te apaixonar por alguém… apaixona-te por mim. Continuas a ser a minha pessoa preferida, Lily. E serás sempre.»
– Colleen Hoover
Com o livro Os Sete Maridos de Evelyn Hugo, de Taylor Jenkins Reid, podemos refletir sobre o tema da bissexualidade, sobre o quanto nós não nos importamos com os outros e o que realmente estamos dispostos a fazer por quem amamos.
«Eu sou bissexual. Não ignore metade de mim para conseguir rotular-me, Monique. Não faça isso.»
– Taylor Jenkins Reid
«Eu estava a tentar obter informações que poderiam partir-me o coração, um defeito da condição humana.»
– Taylor Jenkins Reid
«Quando uma pessoa passa anos a ansiar por ouvir uma voz, reconhece-a de imediato assim que finalmente a ouve.»
– Taylor Jenkins Reid
Já o livro A Hipótese do Amor, de Ali Hazelwood, apresenta-nos a importância do feminismo através de um romance de fakedating.
«Porque começo a perguntar-me se é isto que é estar-se apaixonado. não te importares por teres de te desfazer em pedaços, desde que o outro possa ficar inteiro.»
– Ali Hazelwood

Beatriz Gil
“Natal”, Miguel Torga
“De sacola e bordão, o velho Garrinchas fazia os possíveis para se aproximar da terra. A necessidade levara-o longe demais. Pedir é um triste ofício, e pedir em Lourosa, pior. Ninguém dá nada. Tenha paciência, Deus o favoreça, hoje não pode ser – e beba um desgraçado água dos ribeiros e coma pedras! Por isso, que remédio senão alargar os horizontes, e estender a mão à caridade de gente desconhecida, que ao menos se envergonhasse de negar uma côdea a um homem a meio do padre-nosso. Sim, rezava quando batia a qualquer porta. Gostavam… Lá se tinha fé na oração, isso era outra conversa. As boas ações é que nos salvam. Não se entra no céu com ladainhas, tirassem daí o sentido. A coisa fia mais fino! Mas, enfim… Segue-se que só dando ao canelo por muito largo conseguia viver.
E ali vinha demais uma dessas romarias, bem escusadas se o mundo fosse de outra maneira. Muito embora trouxesse dez réis no bolso e o bornal cheio, o certo é que já lhe custava arrastar as pernas. Derreadinho! Podia, realmente, ter ficado em Loivos. Dormia, e no dia seguinte, de manhãzinha, punha-se a caminho. Mas quê! Metera-se-lhe na cabeça consoar à manjedoira nativa… E a verdade é que nem casa nem família o esperavam. Todo o calor possível seria o do forno do povo, permanentemente escancarado à pobreza.
Em todo o caso sempre era passar a noite santa debaixo de telhas conhecidas, na modorra de um borralho de estevas e giestas familiares, a respirar o perfume a pão fresco da última cozedura… Essa regalia ao menos dava-a Lourosa aos desamparados. Encher-lhes a barriga, não. Agora albergar o corpo e matar o sono naquele santuário coletivo da fome, podiam. O problema estava em chegar lá. O raio da serra nunca mais acabava, e sentia-se cansado. Setenta e cinco anos, parecendo que não, é um grande carrego. Ainda por cima atrasara-se na jornada em Feitais. Dera uma volta ao lugarejo, as bichas pegaram, a coisa começou a render, e esqueceu-se das horas. Quando foi a dar conta passava das quatro. E, como anoitecia cedo não havia outro remédio senão ir agora a mata-cavalos, a correr contra o tempo e contra a idade, com o coração a refilar. Aflito, batia-lhe na taipa do peito, a pedir misericórdia. Tivesse paciência. O remédio era andar para diante. E o pior de tudo é que começava a nevar! Pela amostra, parecia coisa ligeira. Mas vamos ao caso que pegasse a valer? Bem, um pobre já está acostumado a quantas tropelias a sorte quer. Ele então, se fosse a queixar-se! Cada desconsideração do destino! Valia-lhe o bom feitio. Viesse o que viesse, recebia tudo com a mesma cara. Aborrecer-se para quê?! Não lucrava nada! Chamavam-lhe filósofo… Areias, queriam dizer. Importava-se lá.
E caía, o algodão em rama! Caía, sim senhor! Bonito! Felizmente que a Senhora dos Prazeres ficava perto. Se a brincadeira continuasse, olha, dormia no cabido! O que é, sendo assim, adeus noite de Natal em Lourosa…
Apressou mais o passo, fez ouvidos de mercador à fadiga, e foi rompendo a chuva de pétalas. Rico panorama!
Com patorras de elefante e branco como um moleiro, ao cabo de meia hora de caminho chegou ao adro da ermida. À volta não se enxergava um palmo sequer de chão descoberto. Caiados, os penedos lembravam penitentes.
Não havia que ver: nem pensar noutro pouso. E dar graças!
Entrou no alpendre, encostou o pau à parede, arreou o alforge, sacudiu-se, e só então reparou que a porta da capela estava apenas encostada. Ou fora esquecimento, ou alguma alma pecadora forçara a fechadura.
Vá lá! Do mal o menos. Em caso de necessidade, podia entrar e abrigar-se dentro. Assunto a resolver na ocasião devida… Para já, a fogueira que ia fazer tinha de ser cá fora. O diabo era arranjar lenha.
Saiu, apanhou um braçado de urgueiras, voltou, e tentou acendê-las. Mas estavam verdes e húmidas, e o lume, depois de um clarão animador, apagou-se. Recomeçou três vezes, e três vezes o mesmo insucesso. Mau! Gastar os fósforos todos é que não.
Num começo de angústia, porque o ar da montanha tolhia e começava a escurecer, lembrou-se de ir à sacristia ver se encontrava um bocado de papel.
Descobriu, realmente, um jornal a forrar um gavetão, e já mais sossegado, e também agradecido ao céu por aquela ajuda, olhou o altar.
Quase invisível na penumbra, com o divino filho ao colo, a Mãe de Deus parecia sorrir-lhe. Boas festas! – desejou-lhe então, a sorrir também. Contente daquela palavra que lhe saíra da boca sem saber como, voltou-se e deu com o andor da procissão arrumado a um canto. E teve outra ideia. Era um abuso, evidentemente, mas paciência. Lá morrer de frio, isso vírgula! Ia escavacar o ar canho. Olarila! Na altura da romaria que arranjassem um novo.
Daí a pouco, envolvido pela negrura da noite, o coberto, não desfazendo, desafiava qualquer lareira afortunada. A madeira seca do palanquim ardia que regalava; só de cheirar o naco de presunto que recebera em Carvas crescia água na boca; que mais faltava?
Enxuto e quente, o Garrinchas dispôs-se então a cear. Tirou a navalha do bolso, cortou um pedaço de broa e uma fatia de febra e sentou-se. Mas antes da primeira bocada a alma deu-lhe um rebate e, por descargo de consciência, ergueu-se e chegou-se à entrada da capela. O clarão do lume batia em cheio na talha dourada e enchia depois a casa toda. É servida?
A Santa pareceu sorrir-lhe outra vez, e o menino também.
E o Garrinchas, diante daquele acolhimento cada vez mais cordial, não esteve com meias medidas: entrou, dirigiu-se ao altar, pegou na imagem e trouxe-a para junto da fogueira.
— Consoamos aqui os três – disse, com a pureza e a ironia de um patriarca.
— A Senhora faz de quem é; o pequeno a mesma coisa; e eu, embora indigno, faço de S. José.”
Miguel Torga, Novos Contos da Montanha.

As Gémeas de Auschwitz
Uma história real e inesquecível escrita por Eva Mozes Kor, com a ajuda de Lisa Rojany Buccieri.
A leitura deste livro faz-se em pouco tempo, pois não é um livro muito extenso, apresenta uma grafia grande, a escrita é simples e não contém muitos dramatismos. No entanto, é uma leitura um pouco pesada e dura, mas muito interessante.
As Gémeas de Auschwitz é um dos relatos mais impressionantes sobre o Holocausto, uma das maiores tragédias da História da Humanidade. Trata-se de um testemunho, de duas vítimas, dos horrores vividos pelas pessoas que foram levadas para o campo de concentração de Auschwitz, o maior campo de concentração criado pelos nazis. Estima-se que mais de 1 milhão de pessoas tenha morrido no local – a grande maioria judeus.
Através deste livro, que é um exemplo bastante recente e monstruoso do Holocausto, é possível observar que aqueles que cometem as maiores maldades, como Hitler, ficam na história do mundo, são reconhecidos e valorizados, sem serem sujeitos a qualquer castigo ou sacrifício, enquanto que os inocentes, como os judeus, são castigados de forma desumana.
Este livro é um testemunho real, contado na 1ª pessoa, e é mais uma prova em como os mártires e os heróis nem sempre são reconhecidos ou dificilmente o são. Poucas pessoas conhecem Eva e Miriam, mas Hitler todos conhecem. Ainda assim, a mensagem que Eva nos oferece não é de rancor, de ódio, de vingança, mas sim uma mensagem de aceitação e perdão.
Nos dias de hoje, nós, jovens, temos tendência a queixarmo-nos da vida, mas na realidade somos uns privilegiados; o não reconhecimento das pessoas em tempo útil continua a ser uma realidade e continua-se a dar mais atenção a quem pratica o mal do que a quem pratica o bem ou sofre às mãos de terceiros.
Mafalda de Almeida Teles Dias
